quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Rei Humberto de Itália

A fotografia está datada e legendada pelo próprio Carlos Ramos.

O Rei Humberto de Itália, durante o seu exílio em Portugal tornou-se apreciador do Fado, Lucília do Carmo e Carlos Ramos estavam entre os fadistas que mais admirava e com quem manteve relações de amizade.

Era assíduo frequentador d’ O Faia e d’ A Toca.

Nesta última casa de fados ocorreu um episódio que não resisto á tentação de contar:

O piso superior da Toca era um local semi-privado, destinado aos ensaios do elenco e a receber alguns convidados especiais.
Não era raro, poetas como Linhares Barbosa, Domingos Gonçalves Costa, entre outros, ali escreverem belas letras para fado e algumas vezes acontecer serem logo musicadas, ou arranjadas pelos guitarristas.

Presença obrigatória neste espaço era o “Tony-Fotógrafo” que ganhava a vida a tirar fotografias nas casas de fado, com a sua Rolley Flex.

O Tony tinha um pequeno estúdio “preto e branco” no Bairro Alto, de forma que as fotos ficavam prontas a tempo de serem vendidas aos clientes na mesma noite.

Ainda hoje invejo os negros profundos e o alto contraste que o Tony conseguia nas suas ampliações.

O Tony era gente boa, simples, genuína, a falta de cultura era compensada por uma sensibilidade e um coração enormes.

O Tony conhecia a fundo duas coisas: a fotografia e a vida nocturna.

Naquela Noite, Humberto de Itália encontrava-se neste espaço, saboreando uma bebida e conversando com Carlos Ramos e com o Prof. Martinho D’Assunção.

É então que chega o Tony que vendo ali uma oportunidade de ganhar mais uns trocos, agarra na guitarra do Francisco Carvalhinho, aproxima-se do Rei e solta esta frase simples e eficiente e despida de protocolos:

- Oh Senhor reizinho, tire lá um rotratinho ca guitarrinha da mão !!!!

O Fado era assim, nivelava as classes sociais, mesclava culturas e acima de tudo tinha gente realmente bonita.

Abrantes 14 de Fevereiro de 2007
Eduardo Ramos de Morais

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Juntos e ao vivo

Hermínia Silva, acompanhada por Armando Freire (Armandinho), Carlos Ramos, Alberto Correia, Santos Moreira, etc.
Se este elenco se reunir novamente, então "OS ANJOS CANTAM O FADO"

Carlos Ramos, Guitarrista Cantador

Nesta época "pré-Amália" o fado já ia em força ao estrangeiro na voz de Ercília Costa.

sexta-feira, abril 07, 2006

Em Jeito de Errata


Em jeito de errata quero fazer algumas correcções a algumas biografias que tenho lido acerca do fadista Carlos Ramos.

De facto ele nasceu em Alcântara e era filho de João da Silva Ramos o “João da Trompa” assim conhecido por ser exímio executante daquele instrumento e, também por ser ele que o tocava nas caçadas de el-rei D. Carlos, de quem era funcionário no Palácio das Necessidades, com a função de Porteiro da Real Câmara.

A formação musical era obrigatória naquela família, Carlos Ramos era obrigado a aprender solfejo e violino, instrumento que ele detestava porque, no seu entender ele serrava o violino em vez de o tocar, uma das suas irmãs, Feliciana tinha o curso de conservatório de piano etc.

Quanto á guitarra portuguesa, naquele tempo considerado instrumento menor, havia um grupo de jovens estudantes do Liceu Pedro Nunes que a tocavam e aprendiam no intervalo das aulas, entre eles Carlos Ramos e o Dr. Amaro de Almeida de quem mais tarde seria colega na Escola de Medicina.

Não foi nas tascas, não foi não senhor.

Carlos Ramos andou em medicina e não no ensino politécnico, e teve alguns dissabores com o pai por causa da guitarra.

Quando foi forçado a desistir de medicina, empregou-se como escriturário nos Estaleiros da CUF e mais tarde foi radio telegrafista na Marconi.

Paralelamente tocava guitarra nos retiros fadistas então existentes, ao lado de outros guitarristas do tempo, como é o caso de Armando Freire (Armandinho) com quem terá aperfeiçoado o estilo.

O vibrar dos dedos da mão esquerda ao pisar as cordas terá sido uma herança das lições de violino, técnica que ainda hoje se vê usar por alguns guitarristas.

Não tinha qualquer grau de parentesco com Casimiro Ramos, Miguel Ramos ou Adelina Ramos, de comum apenas terem todos feito parte do elenco da Tipóia em simultâneo, para não falar da amizade que os unia.

Foi o primeiro fadista a gravar com orquestra, com João Nobre o tema "O Amor é Louco", durante a gravação tocou guitarra seguindo a orquestração por pauta.

Quando a Princesa Margarida de Inglaterra veio a Portugal ouviu o fado nas vozes de Amália Rodrigues e Carlos Ramos.

De resto, durante muito tempo foram os únicos fadistas a gravar para uma etiqueta internacional a Columbia.

Fica a correcção feita, porque hoje há por aí muito boa gente a dizer disparates sobre o fado, alguns até se lembram de coisas que não viram porque não estavam lá, mas isso é outra história...

( Na foto as guitarras são tocadas por Carlos Ramos e Armandinho acompanhando Maria do Carmo Torres)